Esquema de doações eleitorais ilegais da construtora Delta pode chegar a quase R$ 1 bi
O Deltaduto, canal de financiamento de campanhas políticas a partir de repasses milionários de recursos da construtora Delta para 18 empresas fantasmas identificadas pela CPI do Cachoeira, já soma R$ 421 milhões e pode até dobrar o valor quando dados inconsistentes remetidos à comissão forem atualizados. O relator do colegiado, deputado Odair Cunha (PT-MG), afirmou ontem que, até a primeira semana de outubro, vai apresentar um balanço completo de toda a atividade financeira da quadrilha. O cruzamento das informações indica que boa parte do dinheiro foi sacado em junho, setembro e outubro de 2010, antes da eleição. O valor ultrapassa os recursos identificados no escândalo do mensalão. “A gente ainda tem cerca de 30% de débitos não identificados e aproximadamente 27% de créditos com dados inconsistentes. Por isso, o valor pode ser bem maior. Vamos apresentar um balanço estatístico de toda a movimentação financeira. Estamos tentando fechar o relatório até o dia 30 de setembro”, comunicou o relator. A ideia inicial era apresentar também um esboço do relatório, mas a proposta foi afastada. “Achamos mais prudente não fazer isso porque estaríamos antecipando conclusões”, ressaltou. No retorno da CPI, em 9 de outubro, uma das prioridades é quebrar o sigilo de 12 supostos prestadores de serviços que receberam dinheiro da Delta. A empresa que mais ganhou foi a SP Terraplenagem Ltda. Foram repassados R$ 46 milhões. O que chama a atenção é que as fantasmas recebem quantias milionárias, mas declaram receita bruta irrisória.
A empresa Adécio & Rafael Construções e Incorporações Ltda., apesar da grande movimentação financeira em 2010, ano em que foi aberta, declarou receita bruta de apenas R$ 29,8 mil. Além disso, não apresentou nenhum débito na Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF) e não informou a existência de valores pagos aos funcionários. Ontem, o senador Alvaro Dias defendeu que a CPI deve tratar com prioridade a quebra de todos os sigilos das empresas do esquema. “É claro que os sigilos dessas 18 empresas devem ser quebrados. Só assim, a gente consegue identificar o destino do recurso. Até o momento, aquelas em que a CPI já quebrou, conseguimos saber que grande parte foi destinada ao financiamento de campanhas políticas”, salientou. O parlamentar informou que, das 18 empresas fantasmas listadas (veja quadro), apenas seis delas tiveram os sigilos quebrados. “O grande desafio é conseguir abrir as contas das empresas sediadas no Sudeste. Há muito dinheiro sacado na boca do caixa”, relatou. A CPI descobriu que as empresas do esquema, em tese, não prestaram serviços e nem venderam bens. Também não recolhem tributos e não possuem funcionários. Na lista das fantasmas, um dos casos que chamam a atenção é o da construtora Miranda e Silva Construções e Terraplenagem Ltda. A empresa recebeu R$ 12 milhões da Delta. No entanto, não há registro de atividade econômica. Amanhã, a Liderança do PSDB no Senado promete divulgar um relatório com o detalhamento das remessas realizadas pela Delta para o exterior. No início de agosto, o Correio revelou que documentos sigilosos apontavam que a empreiteira, pivô do escândalo, transferiu, apenas no ano passado, R$ 85,34 milhões para contas nas Ilhas Cayman, famoso paraíso fiscal no Caribe, ao sul de Cuba. Os dados apontavam três grandes remessas. O primeiro repasse ocorreu em 28 de março do ano passado. A empreiteira enviou R$ 40 milhões para uma conta do Banco Safra. Em 23 de dezembro de 2011, foram realizadas duas operações. A primeira no valor de R$ 44,73 milhões, e a segunda, de R$ 609 mil. No relatório, as somas estão contabilizadas em dólar e foram convertidas em real segundo a cotação de ontem divulgada pelo Banco Central. Os dados revelam ainda vultosas quantias de dinheiro remetidas pela quadrilha comandada pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a instituições bancárias no exterior. Só o contraventor enviou mais de R$ 1,5 milhão para diferentes contas bancárias. Na CPI do Cachoeira, o dono da empreiteira, Fernando Cavendish, ficou calado e foi dispensado imediatamente. Ele estava amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal.