A senadora Marta Suplicy bem que tentou sustentar
sua pré-candidatura pelo PT à Prefeitura de São Paulo. Não conseguiu.
Após ouvir um pedido da presidente Dilma Rousseff para que desistisse da
disputa municipal, Marta anunciará ainda nesta quinta-feira (3) que
está fora da corrida eleitoral do próximo ano. Na tarde de segunda-feira (31), antes de visitar o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Dilma
conversou com a senadora petista por quinze minutos na base aérea de
Congonhas e pediu para que ela abandonasse a ideia de concorrer à
Prefeitura da capital paulista. Segundo a presidente, neste momento,
Marta será mais importante no Senado. A ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas,
repassou o teor da conversa entre Dilma e Marta a jornalistas, já na
terça-feira (1), em Cannes, onde a presidente participa da reunião da
cúpula do G20. A ação combinada com as protagonistas foi o que aliados
de Marta chamaram de "saída honrosa". "Dilma fez um apelo, afinada com o
presidente Lula, para que Marta desista da candidatura", afirmou
Helena. Exatamente. O ex-presidente foi o grande mentor da desistência de
Marta Suplicy. O objetivo é cacifar a pré-candidatura do ministro da
Educação, Fernando Haddad, nome preferido de Lula e também da presidente
Dilma Rousseff para concorrer às eleições em 2012. Durante a
comemoração de seu aniversário, na quinta-feira (27), em São Paulo, o
ex-presidente avisou a apoiadores de Haddad: "Fiquem tranquilos, eu
mesmo falarei com Marta. Ela vai sair na hora certa". O diagnóstico de um câncer na laringe do ex-presidente, no sábado
(29), porém, mudou os planos de Lula, que passou a Dilma a missão de
convencer a senadora a desistir da pré-candidatura. No início da noite de terça-feira, mesmo com a divulgação do teor da
conversa entre Dilma e Marta Suplicy pela ministra Helena Chagas,
aliados da senadora afirmavam ainda não terem sido comunicados da
decisão. Marta não conversava com seus apoiadores, os deputados João
Antonio e Cândido Vaccarezza, há pelo menos quinze dias, o que reforçou
seu isolamento político dentro do PT. Um capítulo à parte dessa
história.
O passo a passo da desistência de Marta Suplicy
Além da ação casada entre Lula e Dilma, outros personagens
importantes do PT já haviam tentado interferir na pré-candidatura de
Marta. Aliados de Haddad tentaram convencer o ministro de que ele,
pessoalmente, deveria falar com Dilma e pedir para que ela conversasse
com a senadora. Haddad não achou conveniente e pediu para que o ministro
Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) falasse com a presidente.
Dilma escutou, mas não deu indícios de que teria a conversa com Marta
tão em breve, afinada com Lula, claro. Mas essa não foi a primeira conversa entre a presidente e a senadora
sobre as eleições em São Paulo. Na manhã de quinta-feira, 18 de agosto,
as duas falaram em particular durante um voo de Brasília para São Paulo,
onde participaram de um evento no Palácio dos Bandeirantes. Na ocasião,
Dilma afirmou que Marta seria importante como vice-presidente do
Senado, mas não havia sido tão enfática quanto à desistência de sua
pré-candidatura. Esse seria o papel de Lula dias depois. No fim de semana dos dias 20 e 21 de agosto, começaram a surgir os
primeiros boatos de que Marta teria desistido de concorrer às eleições
de 2012. A senadora se ausentou de três compromissos da pré-campanha,
entre eles, duas caravanas do PT - nos bairros da Lapa e Pirituba. A expectativa, então, girou em torno da conversa que Marta teria com
Lula já na segunda-feira, 22 de agosto. O ex-presidente marcou de
receber os pré-candidatos do PT à Prefeitura da capital paulista no
Instituto Lula, região sudeste de São Paulo. Marta foi a última a
escutar o ex-presidente, que sinalizou sua preferência por Haddad e
disse, delicadamente, que Marta era mais útil no Senado. A senadora saiu
falando que continuava no páreo e os boatos acabaram perdendo força.
Nos bastidores, porém, a cada passo, Marta perdia apoio de grande
parte dos dirigentes do PT e o fôlego para continuar dizendo que
disputaria as prévias do partido, marcadas para 27 de novembro. No final
de setembro, Haddad já tinha o apoio de sete dos onze vereadores do PT
na Câmara de São Paulo, além do respaldo das maiores correntes petistas
na capital paulista - Novo Rumo e Construindo um Novo Brasil (CNB). A
musculatura, somada à corrente Mensagem ao Partido, tendência a que
pertence Fernando Haddad, animava os emissários de Lula na tentativa de
chancelar a candidatura do ministro. Marta ainda contava com o apoio de grande parte da militância petista
e os dirigentes do partido sempre afirmaram que seu apoio à candidatura
de Haddad seria fundamental. Era por isso que a senadora não poderia
sair da disputa brigada, com um racha ou qualquer coisa parecida. A
saída deveria ser honrosa. Para Marta, valeu um pedido de Lula e Dilma,
pessoalmente. Agora, os demais pré-candidatos, o senador Eduardo Suplicy e os
deputados federais Carlos Zarattini e Jilmar Tatto, precisam retirar
também suas pré-candidaturas se o PT quiser evitar as prévias. Tatto e
Zarattini têm a desistência como certa entre os dirigentes petistas. A
dúvida fica em torno de Suplicy, que insiste na disputa. No entanto,
mesmo se permanecer no páreo, as chances do senador vencer o ministro
são quase nulas. Fernando Haddad, como queria Lula, é o candidato do PT à Prefeitura
de São Paulo. E provavelmente sem disputas internas, também ao gosto do
ex-presidente.