Circo e fogo
09MAI
O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), descartou nesta quarta-feira a possibilidade de deixar o partido. Ao mesmo tempo, reafirmou que “torce” para que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não seja candidato a presidente. Para Gomes, uma candidatura de Campos é “incensada”, mas “os apoios não são sinceros”. Em palestra em São Paulo no Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, o governador do Ceará disse ainda que a campanha à sucessão no Planalto foi antecipada pelo PT porque havia “muita intriga” entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. — Acho que estava havendo muita intriga entre Lula e Dilma e uma situação de desconforto para Lula, que teve de mostrar que não é candidato à Presidência. Mas isso criou um grande problema para Dilma — avaliou o governador do Ceará. Cid Gomes considerou “boatos” as informações de sua eventual saída do PSB, mas confirmou que, ao final do governo, no ano que vem, deixará por um tempo a vida política. Ele disse querer passar dois anos em Washington, trabalhando no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), instituição com a qual já trabalhou. Gomes descartou a possibilidade de ser candidato ao Senado, liberando a vaga na campanha para partidos aliados. — O PSB é o partido de que gosto e participo e que permanecerei. Não considero a hipótese de sair do PSB —disse ele. Para o governador do Ceará, a candidatura de Campos tem sido incentivada pela oposição, que, com o gesto, gostaria de dividir a base aliada do governo. Ele também inclui entre os apoiadores integrantes de partidos aliados que desejam ganhar mais espaço no governo. — Penso que o melhor é manter uma aliança com o PT nesta eleição. O PSB deve manter a aliança, mas tensionando e buscando levar o governo mais à esquerda. Uma candidatura de Eduardo (Campos) é hoje muito incensada, mas isso é artificial. Os apoios não são sinceros. Estão dando corda para ver o circo pegar fogo. A toda a oposição interessa a candidatura de Eduardo, assim como para todos aqueles que têm demandas não atendidas — disse ele. Para Cid Gomes, uma eventual saída do PSB do governo libera os dois ministérios mantidos pela legenda, o que agrada a partidos do arco de aliança do governo. — A candidatura interessa muito para fragilizar (o governo) ou para melhorar os espaços dos que já estão na base aliada. Sou a favor de um projeto nacional para o partido, mas que não deve ser agora. Cid Gomes defendeu que o partido apoie Dilma à reeleição, mas que deixe claro que vai disputar o cargo em 2018. Mas, uma eventual candidatura própria em 2014, segundo ele, serviria para minar os projetos regionais do PSB: — Com a candidatura, vamos ter dificuldades de formar os nossos palanques regionais. O PSB pode conseguir uma aliança com o PTB, mas a troca seria de dar ao PTB o governo de Pernambuco. Uma candidatura põe em risco o avanço que queremos no plano regional — disse Cid Gomes, afirmando que a prioridade é manter o PSB nos seis estados governados pela legenda (Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Espírito Santo e Amapá). Apesar de se posicionar contra a candidatura própria da legenda, Cid Gomes foi cauteloso ao falar de Eduardo Campos. Ele disse ter sido colocado em posição antagônica ao governador de Pernambuco, mas teceu elogios ao companheiro de legenda. — Eu torço para que Eduardo não seja candidato. Mas uma coisa é achar que temos de manter uma aliança com o PT e outra é ser contra a candidatura. Eduardo é o governador mais popular do Brasil.