quinta-feira, 6 de outubro de 2011

INCLUSÃO SOCIAL: A importância da inclusão de portadores de necessidades especiais na música.

(Diego)

Há vinte anos trabalhando como mestre de banda de música, hoje, quase deixando o ofício, tendo em vista o descaso e o abandono do poder público, deparo-me com situações que servem como uma injeção de ânimo, fazendo-me crer que mesmo com todas as adversidades, a música exerce um papel importante em nossa sociedade e é através dela que também podemos lograr dias melhores. É nesse sentido que passo a narrar uma história comovente, triste, porém ainda corriqueira em nossa sociedade paradoxal.
Certo dia, em viagem informal à cidade de São Miguel-RN, encontro um amigo popularmente conhecido como seu Francisco. O mesmo, como sempre cordial e espontâneo, demonstrara naquele encontro certa indiferença, logo percebida por mim.Ao questioná-lo por tal anormalidade, o mesmo, emocionado, dá-me um depoimento sobre a situação vivenciada por seu filho Diego, um jovem maravilhoso, mas que desde a infância sofre discriminação por ser ESPECIAL, sendo por isso excluído do convívio social por ignorância, preconceito e intolerância de algumas pessoas. O querido Diego ao ser rechaçado do rol de atividades sócio-culturais daquele município, e pormenorizações de alguns, chegara algumas vezes entrar em depressão, e atentar contra  própria vida.
Já emocionado, seu pai fala do gosto que Diego tem pela musica e da relação que tem com sua flautinha de brinquedo, uma flauta agradável, que nas horas mais difíceis é tocada de uma forma descompassada para nela exprimir através de sons todos os seus sentimentos, muitos dos quais tristes. Veio-me logo à memória um filme por mim assistido de titulo MEU NOME É RÁDIO, onde mostrava toda dificuldade de inclusão de um jovem especial. Foi através dessa conversa que seu pai pediu para incluir Diego na banda de musica de sua cidade, pois ao vê-la tocar, sentia uma alegria imensa, alimentando um sonho de participar daquele grupo de jovens músicos. No final da conversa, seu Francisco quase não acreditou quando o falei para que faria de tudo para realizar este pequeno e grande sonho daquele rapaz com o maestro da banda local, e que  certamente conseguiria um lugar todo ESPECIAL, pois música não é para quem tem dom e sim para quem quer superar limites.
Ao Sai rapidamente daquele local, fui falar com o responsável pela banda de musica e expus todo o ocorrido, toda a história de amor de um pai para com seu filho especial. Atencioso e sempre cortês, o maestro Euzeli prontamente acatou a sugestão ora feita por mim, disponibilizando logo no primeiro ensaio sequente uma panderola (instrumento de percussão parecido com o ganzá) para que Diego aprendesse o repertório a ser tocado na festa do padroeiro com seu novo instrumento. Tudo isso deixou-me em uma felicidade imensa, vindo a partir dali, a contar os dias para que pudesse retornar a São Miguel e ver o mais novo componente  da banda de música local. Dias se passaram, e como de praxe, desloquei-me àquela cidade para rever os amigos e tocar na banda em que fui maestro, além de usufruir das festividades religiosas. Lá chegando, dirijo-me ao local de ensaio daquela banda e deparo-me com Diego, uniformizado, numa alegria impar, e ao tocar o primeiro dobrado com a banda percebi que para ele, aquele era um momento único, que transcende além de nossos olhos, invade os nossos sentimentos. Passando por tudo, notei quanto somos pequenos para não aceitarmos em nosso meio, pessoas de coração tão grande, que diante de tamanha dificuldade, alcança a felicidade em momentos tão simplistas aos nossos olhos nus. Tenho esperanças de que poderemos viver em um mundo melhor, sem tanta ganância, inveja ou hipocrisia, e que um simples ato de carinho pode modificar a vida de um ser humano que é mais do que especial: é agora feliz de verdade.
Parabéns DIEGO pela vitória.
 
                                                                   Éverton Luiz - Maestro

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