Gravações revelam que senador do DEM solicitou ajuda para despesa de táxi-aéreo
BRASÍLIA - Gravações da Polícia Federal revelam que o senador Demóstenes
Torres (GO), líder do DEM no Senado, pediu dinheiro e vazou informações
de reuniões oficiais a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
acusado de chefiar a exploração ilegal de jogos em Goiás. Relatório com
as gravações e outros graves indícios foi enviado à Procuradoria Geral
da República em 2009, mas o chefe da instituição, Roberto Gurgel, não
tomou qualquer providência para esclarecer o caso. O documento aponta
ainda ligações comprometedoras entre os deputados Carlos Leréia
(PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO) com Cachoeira. O relatório, produzido três anos antes da deflagração da Operação
Monte Carlo, escancara os vínculos entre Demóstenes e Cachoeira. Numa
das gravações, feitas com autorização judicial, Demóstenes pede para
Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”.
Em outro trecho do relatório, elaborado com base nas gravações, os
investigadores informam que o senador fez “confidências” a Cachoeira
sobre reuniões reservadas que teve no Executivo, no Legislativo e no
Judiciário. Parlamentar influente, Demóstenes costuma participar de
importantes discussões, sobretudo aquelas relacionadas a assuntos de
segurança pública. O relatório revela ainda que desde 2009
Demóstenes usava um rádio Nextel (tipo de telefone) “habilitado nos
Estados Unidos” para manter conversas secretas com Cachoeira. Segundo a
polícia, os contatos entre os dois eram “frequentes”. A informação
reapareceu nas investigações da Monte Carlo. Para autoridades que
acompanham o caso de perto, esse é mais um indicativo de que as relações
do senador com Cachoeira foram mantidas, mesmo depois da primeira
investigação criminal sobre o assunto. O documento expõe também a
proximidade entre Cachoeira e os deputados Leréia e Sandes Júnior. Leréia
também usava um Nextel para conversas secretas com Cachoeira. A polícia
produziu o relatório com base em inquérito aberto em Anápolis para
investigar a exploração de bingos e caça-níqueis na cidade e arredores.
Como não pode investigar parlamentares sem autorização prévia do Supremo
Tribunal Federal (STF), a PF enviou o material à Procuradoria Geral em
15 de setembro de 2009. O relatório foi recebido pela
subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques. Caberia ao
procurador-geral, Roberto Gurgel, decidir se pediria ou não ao STF
abertura de inquérito contra os parlamentares. Mas, desde então, nenhuma
providência foi tomada. No segundo semestre de 2010, a PF abriu
inquérito para apurar exploração ilegal de jogos em Luziânia e se
deparou com as mesmas irregularidades da investigação concluída há três
anos. Procurado pelo GLOBO, Gurgel disse, por meio da assessoria de
imprensa, que estava aguardando o resultado da Operação Monte Carlo para
decidir o que fazer em relação aos parlamentares. O advogado Antônio
Carlos de Almeida Castro, o Kakay, confirmou o uso do Nextel por
Demóstenes. Segundo ele, o senador usou o telefone, mas não se
lembra desde quando. O advogado não fez comentários sobre o suposto
pedido de pagamento de despesas e o vazamento de informações oficiais
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