TV paga se calça para cumprir nova legislação
Lei exige 3h30 semanais de produção brasileira na faixa nobre
Alô, você que assiste a canais estrangeiros de entretenimento como
Sony, Fox, Warner, Discovery, NatGeo, History, TNT e HBO, entre outros,
atenção: a partir de março de 2012, o seu cardápio e os pacotes que
assina vão sofrer uma série de reformas. O primeiro sintoma será a
multiplicação de produções nacionais na tela - com exceção dos étnicos e
de notícias, vá lá - em razão das cotas de produção nacional exigidas
pela nova regulamentação da TV por assinatura no Brasil. Marcos Palmeira é Mandrake, na série coproduzida pela Conspiração O feito é fruto da Lei 12.485, sancionada pela presidente Dilma
Rousseff em setembro, após quatro anos de discussões. Enquanto as
produtoras independentes comemoram os rendimentos que a nova legislação
deve trazer à indústria do audiovisual no País, os canais internacionais
se calçam para cumprir a lei sem desvirtuar a essência de seus
conteúdos. "O assinante que liga a TV no TCM (Turner Classic Movies),
por exemplo, espera ver os clássicos de Hollywood, ninguém espera ver
conteúdo nacional", afirma o vice-presidente da Turner no Brasil,
Anthony Doyle. Para ele, a TV paga deveria vender conteúdo diferente da
TV gratuita. Doyle esclarece que não é contra uma lei que visa fomentar a produção
nacional, até porque a Turner já produz conteúdo brasileiro em seus dez
canais, entre eles o Glitz* e Cartoon Network, que possui atrações como
A Turma da Mônica. "(Nesses canais) nada deve mudar, a não ser
algum ajuste de grade para o que ficar determinado como horário nobre",
comenta o executivo.
Presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), a quem cabe
fiscalizar as regras lei e aprovar as coproduções que unem canais e
produtores independentes brasileiros, Manoel Rangel reconhece que a TV
paga já vem sendo, mesmo antes da lei, a grande responsável pela
expansão do setor. Mas corrige: "A relação com a produção independente
cresceu no Brasil fruto de uma política pública que impôs que os
programadores estrangeiros deveriam reter recursos aqui para investir em
produção independente, e se constituiu daí uma incrível parceria, todas
com leis de incentivo criadas pelo Governo Federal nos últimos dez
anos", cita. Rangel lembra que o Brasil não tem tradição autorreguladora, item
presente em outros países, e o potencial atual da economia local merece
respeito no cenário mundial. "Eles (programadores internacionais)
produzem conteúdo em vários países. O Brasil fornece a eles um
faturamento de 11 milhões de assinantes, com perspectivas de expansão
para 25 milhões em três anos", aposta.
Antes da lei. De fato, o aquecimento desse mercado
se desenhou a partir da demanda dos canais pagos por cenas nacionais
aliada às leis de fomento que lhes permitem abater impostos por meio de
produções locais. A HBO é um grande exemplo. Em parceria com O2,
Conspiração, Gullane, Casa de Cinema e Pródigo, o canal fez grandes
séries e trouxe sua expertise em TV de qualidade para uma terra dominada
pelo padrão Globo. A própria rede dos Marinhos se rendeu a novas
linguagens - vide Cidade dos Homens, Carandiru, Antônia e Som e Fúria -
aproveitando o boom das produtoras independentes gerado pela TV paga. "Não somos contra a lei. Somos contra o modo como a lei foi feita",
afirma Alberto Niccoli Junior, vice-presidente sênior e gerente geral do
grupo Sony Television no Brasil. Agora, ele espera a regulamentação da
lei, processo que será feito até março, a fim de ajustar uma série de
dúvidas de produtores, programadores e operadores, para saber o que será
definido como horário nobre e quando a regra das 3h30 semanais de
programação nacional passa a valer. Niccoli defende que o governo dê um
tempo para que os canais consigam realizar projetos de qualidade. "É
preciso ao menos um ano para produzir um programa como, por exemplo, o Brazil's Next Top Model." Esse tempo é necessário porque as produtoras brasileiras,
diferentemente das americanas, apresentam apenas projetos aos canais.
"Há muita coisa boa, mas está tudo no papel. Ninguém consegue produzir
para depois vender", fala Niccoli. A Sony busca agora formatos variados,
com duração mais curta que as teledramaturgias de 30 minutos ou 1 hora.
As coproduções de canais estrangeiros no País se estendem para a Fox, que fez a série 9 MM: São Paulo,
ao Discovery, que alinhavou vários documentários com a Mixer e
animações brasileiras no canal Kids. Tem ainda o canal Biography, que
contou as histórias de vida de diferentes personalidades brasileiras. Na
Nickelodeon, está no ar a série teen Julie e os Fantasmas, da Mixer. Nenhum desses canais investe em produção nacional porque é bonzinho. Além de contar com verba de leis de incentivo, quem se aproxima da
realidade nacional - mesmo que só na dublagem - recebe audiência em
troca. Em julho, os oito canais mais vistos foram nacionais ou dublados:
SporTV, TNT, Multishow, SporTV 2, Fox, Globo News, Megapix e Viva. "Entendemos que o espírito da lei é fomentar a produção audiovisual
nacional e esperamos que a regulamentação pendente respeite a linha
editorial do setor que visa oferecer uma variedade de conteúdo, seja ele
nacional e internacional, para o público ao qual se destina cada canal
e, com isso, não interfira de forma imprópria ou desnecessária na
experiência do telespectador ao ver TV por assinatura", defende Fernando
Medín, vice-presidente sênior e diretor geral da Discovery Networks no
Brasil. Isso é só o começo.
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