Eduardo Campos: ‘Este não pode ser só mais um ciclo de desenvolvimento’
Na última década, a região Nordeste emplacou avanços notórios nas áreas econômica e social. Com a instalação de novas indústrias, obras de integração e infraestrutura logística e um mercado consumidor ascendente, os nove estados nordestinos passaram a crescer, juntos, num ritmo superior à média nacional.
Um caminho sem volta?
Ainda não se sabe.
Em sua participação no seminário “O Nordeste do Século XXI – Desenvolvimento com Igualdade Social”, da série Diálogos Capitais promovida por CartaCapital, em Salvador, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), manifestou sua preocupação com a possibilidade de o País desperdiçar a oportunidade de corrigir, desta vez, as mazelas históricas da região – o Nordeste ainda baixos índices de desenvolvimento, como escolaridade e participação na riqueza nacional. “Este não é o primeiro ciclo (de crescimento). Ao longo dos últimos cem anos, tivemos outros crescimentos acelerados do Nordeste, que coincidem com os momentos de maior expansão econômica”, lembrou o governador, citando como exemplos a bonança dos anos 1950, com Juscelino Kubitschek, e os anos 1970, e os investimentos dos militares. “Houve crescimento econômico, mas não qualidade no desenvolvimento. Na Bahia, por exemplo, vieram os investimentos econômicos, mas ficaram desafios sociais, semelhados aos de Pernambuco e outros lugares.” A situação começou a mudar após a reabertura política, assinalou o governador, quando voltou-se a se discutir a desigualdade no Nordeste como uma questão nacional. O atual ciclo de desenvolvimento tem como características o aumento da empregabilidade e do poder de compra, graças à elevação do salário mínimo, o alcance de programas sociais e de transferência de renda, a expansão do crédito e do crédito para a agricultura. Campos lembra, no entanto, que para que o Nordeste atinja um índice de PIB per capta semelhante ao restante do País seriam necessários 50 anos com taxas de crescimento anuais 1% acima do PIB nacional, como acontece hoje. Outra situação que ilustra a concentração de renda nas regiões mais ricas é que o Nordeste possui hoje apenas duas montadoras de automóveis (6% do total), num período em que o setor automotivo representa 25% do PIB industrial. Para que os estados nordestinos avancem, Campos defende que um ciclo de expansão econômica que se sustente com base na redução das desigualdades regionais e entre as pessoas. “Até os conservadores entendem o que a gente aprendeu ouvindo a Tânia Bacelar (professora da Universidade Federal de Pernambuco e especialista em Planejamento Global, que estava presente ao evento): não bastou a gente por fim à inflação do Brasil, entrar nos trilhos e crescer. Foi muito importante, sim. Mas o que fez a região crescer foi que botamos o dedo numa velha ferida, a ferida da exclusão. E as pessoas que viviam em situação de pobreza se tornaram consumidores”. Entre os entraves que impediram o avanço em experiências anteriores, Campos cita a época em que o Nordeste “achava que ia resolver seus problemas com guerra fiscal”. “Enquanto isso, a Europa fazia uma união de países, de nações, um bloco econômico, hoje em sua mais grave crise, mas que poderia ter acontecido antes se não fosse o sonho do euro. E a gente achando que Pernambuco tinha que brigar com a Bahia, a Bahia, com o Ceará, o Ceará com o Rio Grande do Norte”, disse. Projetos de integração, representados, por exemplo, pelo papel do Banco do Nordeste, conseguiram desfazer parte deste nó. Segundo ele, hoje os governadores nordestinos têm projetos em comum. Sobre o papel da região no cenário nacional, Campos afirmou que, se não for feito um recorte das especificidades regionais para atrair e sustentar os investimentos na região, a concentração vai se eternizar.
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