A análise de novos vídeos divulgados sobre os momentos finais do
ex-ditador da Líbia Muammar Gaddafi reforçam as suspeitas de que ele
tenha sido executado pelos rebeldes, afirma o blog "The Lede", do jornal
americano "The New York Times"."Embora seja difícil determinar a exata cronologia de todos os vídeos
postados online nas últimas 36 horas, as primeiras imagens do coronel
Gaddafi após ser capturado parecem ter sido feitas por Ali Algadi, um
combatente rebelde, com um iPhone. Algadi disse ao site americano de
notícias GlobalPost, que obteve e publicou este vídeo, que ele começou a
gravar apenas alguns segundos depois que o líder foi arrastado de um
duto de esgoto sob uma estrada em Sirte na quinta-feira", afirma o blog.
Durante o dia, centenas de pessoas formaram filas na cidade de Misrata
para ver o corpo do ex-ditador da Líbia exposto sobre um colchão numa
sala refrigerada utilizada por bares e restaurantes de um mercado. Sem camisa e sapatos, sobre um colchão improvisado e sujo de sangue, o
cadáver do ditador que governou o país por 42 anos com mão de ferro foi
fotografado com câmeras e celulares por centenas de curiosos que
aguardaram para passar pelo local. Marcas de tiros ainda são visíveis no lado esquerdo da cabeça, onde o projétil permanece alojado, no peito e também na barriga.
INVESTIGAÇÃO
Mais cedo, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu
nesta sexta-feira uma investigação sobre as circunstâncias da morte do
ex-ditador líbio Muammar Gaddafi, anunciada ontem pelas forças rebeldes
do país, durante operação militar em Sirte. "A respeito da morte de Gaddafi ontem, as circunstâncias ainda não são
claras. Nós consideramos que é necessária uma investigação", declarou o
porta-voz, Rupert Colville, em referência aos vídeos que foram
divulgados pelos meios de comunicação.
"Deveria haver algum tipo de investigação, dado o que vimos ontem, acho
que é muito essencial", disse ele, em referência às imagens divulgadas
da captura de Gaddafi, nas quais ele ainda aparecia com vida. Embora inicialmente não houvesse uma versão oficial, um vídeo que mostra
o ex-ditador capturado ainda vivo transmitido por emissoras árabes
gerou suspeitas de que ele tivesse sido executado pelos rebeldes. O
premiê da Líbia, Mahmoud Jibril, disse que relatórios de perícia mostram
que a causa da morte foi um tiro recebido durante um tiroteio. "Gaddafi foi retirado de dentro de uma tubulação de esgoto e não mostrou
resistência alguma. Quando começamos a movê-lo ele foi atingido por um
tiro no braço direito e quando o colocamos numa picape ele ainda não
tinha nenhum outro ferimento", disse o premiê citando o relatório. Um médico que examinou o corpo, porém, afirmou que ele foi fatalmente
ferido por uma bala em seus intestinos depois de ser capturado. "Gaddafi
foi capturado vivo, mas morreu depois. Houve uma bala e essa foi a
causa primária de sua morte; ela penetrou em suas entranhas", afirmou o
Ibrahim Tika à emissora árabe de TV Al Arabiya. "E houve uma outra bala
na cabeça, que entrou e saiu". Segundo o porta-voz da ONU, as circunstâncias da morte do ex-ditador
estão "muito pouco claras" porque há "quatro ou cinco versões diferentes
de como ele morreu". Colville pediu mais detalhes para determinar se
houve uma execução por parte dos rebeldes ou se foi durante troca de
tiros. O funcionário do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos
lembrou ainda que o Conselho de Direitos Humanos da ONU já havia
designado meses atrás uma comissão para investigar as violações de
direitos cometidas na Líbia pelos dois lados do conflito.
Colville chamou ainda as novas autoridades líbias e a quem puder ajudar
que "contribuam para tranquilizar a situação no país", tendo em vista
que "há gente demais que está armada na Líbia e que a situação está
muito desordenada". Segundo ele, porém, a queda do regime e das últimas cidades que
permaneciam fiéis a ele coloca o fim a oito meses de sofrimento e
violência extrema. "Começa uma nova era que deve responder às aspirações
do povo por democracia e direitos humanos", afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário