sexta-feira, 20 de julho de 2012

CANALHAS SÃO CANALHAS EM QUALQUER LUGAR


Na tentativa de incriminar Lula, oposição amplifica o último factoide de Jefferson


De todos os políticos brasileiros, poucos têm sido tão teatrais como Roberto Jefferson, pivô do mensalão. No governo Collor, o petebista integrava, com orgulho, a “tropa de choque” do ex-presidente, às vésperas do impeachment. Em 2005, pouco depois de denunciar o mensalão em duas entrevistas à Folha de S. Paulo, Roberto Jefferson divertiu repórteres, cantando da janela do seu apartamento em Brasília, a canção Caçador de Mim, interpretada por Milton Nascimento. “Nada a temer, senão o correr da luta...” Nesta semana, às vésperas do julgamento do mensalão, Jefferson voltou a vestir a camisa do político intrépido e destemido. Disse que, em 2005, foi procurado pelo Arlindo Chinaglia, então líder do governo do Lula, que lhe propôs um acordo: recuar nas denúncias, em troca de uma investigação de mentirinha da Polícia Federal, que o inocentaria no processo. Jefferson teria negado porque preferiu “cair de pé, e não de joelhos”. A acusação, negada ao 247 pelo deputado Chinaglia, acaba de se transformar no último factoide de Jefferson. Representantes de vários partidos da oposição começaram a reverberar as acusações. “Isso mostra que o ex-presidente Lula tentou usar a Polícia Federal em defesa do PT”, disse o deputado ACM Neto (DEM/BA), que concorre à prefeitura de Salvador. “Isso tem que ser investigado, porque tudo o que Jefferson denunciou foi comprovado”, reverberou Sérgio Guerra, presidente do PSDB. “Eu já sabia”, concluiu Roberto Freire, do PPS. Do ponto de vista concreto, no entanto, não há sinais de que Lula tenha trabalhado para conter a investigação relacionada ao mensalão. Eis alguns exemplos: 


1) A CPI dos Correios foi presidida por um senador petista, Delcídio Amaral, que agiu de forma independente e não aliviou para nenhum dos suspeitos ligados ao partido.



2) A Polícia Federal atuou com total liberdade e recolheu provas que alimentaram a denúncia formulada pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.



3) Lula reconduziu Antonio Fernando ao cargo, após a apresentação da peça que denunciou os 40 réus do mensalão.



4) A peça foi recebida pelo ministro Joaquim Barbosa, indicado por Lula ao Supremo Tribunal Federal, que produziu um duríssimo relatório sobre o mensalão.



5) No governo Dilma, o procurador Roberto Gurgel intensificou as denúncias e também foi reconduzido ao cargo.



É, portanto, improvável que Lula tenha tentado calar Roberto Jefferson na origem do escândalo e depois tenha deixado que tudo corresse livremente. “Só posso ver nisso a última chicana jurídica do ex-deputado Roberto Jefferson”, disse ao 247 o líder do governo Dilma, Arlindo Chinaglia.

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