Com a bênção de Lupi, PDT loteia cargos no Ministério do Trabalho
Sílvia Amoriam, O Globo
Um trem da alegria está sendo conduzido pelo PDT no Ministério do Trabalho. Com o aval do ministro Carlos Lupi, presidente licenciado da legenda, o comando das Superintendências Regionais do Trabalho por todo o país tem sido entregue a filiados do partido. Levantamento feito pelo GLOBO identificou que em pelo menos 13 estados a chefia das unidades está nas mãos de dirigentes partidários ou candidatos derrotados na eleição de 2010. De janeiro a outubro, Lupi nomeou dez novos superintendentes (Rio, Amazonas, Ceará, Pará, Paraná, Rondônia, Santa Catarina, Tocantins, Paraíba e Mato Grosso do Sul). Sete são filiados ao PDT e os outros têm algum tipo de relação com políticos da legenda. Quando o assunto é gestão, essas unidades estão longe de ser exemplares. No Tribunal de Contas da União, na Controladoria Geral da União e no Ministério Público Federal elas são alvo de processos por irregularidades que vão de contratações sem licitação ao uso de funcionários ligados a sindicatos ou empresas em atividades-fim, o que é vedado por lei. São 27 as Superintendências Regionais do Trabalho. Também conhecidas como Delegacias Regionais do Trabalho, representam o ministério nos estados e têm como função mediar e arbitrar sobre negociação trabalhista coletiva, supervisionar regionalmente as ações do ministério e emitir carteiras de trabalho. Essas regionais custaram este ano R$ 10,1 milhões aos cofres federais. Mas não é o orçamento que desperta tanta cobiça pelo órgão. Segundo representantes de sindicatos de trabalhadores e do setor patronal, a tarefa de fiscalizar o setor produtivo sobre o cumprimento da legislação trabalhista é o maior atrativo por causa do alto potencial arrecadatório de propina. Essas estruturas também acabam sendo usadas como trampolim político para superintendentes.
12/11/2011
ResponderExcluiràs 6:15
A SITUAÇÃO DE LUPI SE AGRAVA MUITO – Ministro viajou em avião pago por dono de ONGs acusadas de fraudar Ministério do Trabalho; pior: o dito-cujo estava junto. Pior ainda: disse a deputados, em depoimento oficial, que isso não aconteceu
É… O ministro Carlos Lupi ama demais da conta a presidente Dilma Rousseff! Pena que seu amor pela ética pública e pela, como posso chamar?, congruência entre versão e fatos não tenha igual intensidade. A VEJA desta semana traz uma reportagem de seis páginas, de autoria de Daniel Pereira, Hugo Marques, Gustavo Ribeiro e Paulo Celso Pereira, que demonstra, mais uma vez, por que a permanência deste senhor no Ministério do Trabalho é um acinte. Dilma terá de escolher entre a baba amorosa do ministro e a decência. A síntese da pilantragem de agora é a seguinte: em viagem oficial ao Maranhão, Lupi usou um avião alugado por um dos principais acusados de desviar dinheiro de convênios com o ministério. E o tal acusado estava entre os passageiros! Indagado na Câmara se conhecia o dito-cujo ou se já tinha voado com ele, o fanfarrão negou de pés juntos. Vale dizer: contou aos deputados, numa sessão oficial, aquela coisa que é o oposto da verdade. É caso para demissão sumária e para CPI. Insisto: não se tinha uma evidência dessa gravidade contra Orlando Silva, por exemplo.
Meira não é do PDT, mas tem relações intestinais com o partido. Ele comanda uma rede de ONGs que têm contratos milionários com o Ministério do Trabalho. Era, portanto, um interessado direto no programa que estava sendo anunciado no Maranhão. Mais do que isso. Foi Meira quem “providenciou” o King-Air que transportou o ministro e os pedetistas do governo pelo Maranhão, numa daqueles clássicas confraternizações entre interesses públicos e privados, cuja despesa acaba sempre pendurada na conta do contribuinte. O ministro Carlos Lupi cumpriu uma agenda oficial, usando um avião privado, pago por um dono de ONG que tem negócios com o ministério. E, pior, um dono de ONG acusado de fraudar o próprio ministério. (…)
Aos deputados, Lupi afirmou desconhecer Adair Meira. “Eu não tenho relação nenhuma, absolutamente nenhuma, com o - como é o nome? - seu Adair”. afirmou, num providencial lapso de memória. Depois, emendou: “Posso ter e devo ter encontrado com ele em algum convênio público. Não sei onde ele mora.” Quanta descortesia. No fim de 2010, um ano após o tour maranhense, a Fundação Pró-Cerrado e a Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renaspi), duas ONGs de Meira, receberam do Ministério do Trabalho, numa solenidade em Brasília, o Selo Parceiros da Aprendizagem, concedido a entidades consideradas de excelência na formação profissional. Na mesma ocasião, a Renaspi foi escolhida pelo ministério como parceira num projeto para qualificar trabalhadores no Maranhão - isso apesar de ter credenciais nem de longe abonadoras. A Procuradoria da República já pediu a devolução de recursos públicos embolsados pelas entidades de Meira. A Controladoria-Geral da União (CGU ), por sua vez, apontou uma série de irregularidades nos contratos executados por ela. Na audiência com os deputados, Lupi garantiu que quase nunca viaja em aviões particulares. E assegurou que jamais se locomoveu à custa de Meira. “Nunca andei em aeronave pessoal nem dele nem de ninguém”, disse o ministro. Lupi esqueceu de combinar a versão com um de seus antigos assessores.
(…)
Como se nota, não precisa ser uma bala para tirar Lupi do Ministério do Trabalho. Basta a ética pública.
RAIMUNDO ANDRADE
CAMPINAS SP